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terça-feira, 27 de novembro de 2007
Crónica do Peão: Sorte, disse ele...!?
Devido a motivos imprevistos o nosso novo cronista, Pedro Fonseca, que já tinha postado na última semana (o post Anjo Branco), não fez a sua introdução. Pedro Fonseca é um benfiquista fanático e dirige um blogue, também ele dedicado ao clube da Luz, chamado: O Inferno da Luz. Convidamo-lo e ele, gentilmente, aceitou e agora fará, semanalmente, uma crónica sobre o desporto rei. Aproveitem!

Sorte, diz ele. Sorte? O autor de “Equador” e de “Rio das Flores”, Miguel Sousa Tavares, à falta de melhor argumento, diz, e passo a citar, “acho que nunca, em tantos anos a ver futebol e a seguir campeonatos, vi uma equipa com tanta sorte como este Benfica de 2007/8(in jornal “A Bola” de 27 de Novembro de 2007, rubrica “Nortada”).

O celebrizado escritor, jornalista e comentador, conhecido pela sua coragem opinativa é, no entanto, sobre este assunto bem cauteloso. Vejam bem: “acho que…”, defende-se ele. Acha mal. E tem memória selectiva.

Miguel Sousa Tavares chamou “sorte” ao golo de calcanhar de Luisão, no Académica-Benfica, de sábado passado. Pois bem: e o golo de Madjer, em 87, no Bayern-FC do Porto, final da Taça dos Campeões Europeus, no Prater de Viena? Lance genial, claro…
E o golo de Ademir, lembra-se, a 7 minutos do fim, em 1978, em pleno Estádio das Antas, num épico FC do Porto-Benfica, cujo empate final de 1-1 acabou com o jejum portista de 18 anos sem ganhar o campeonato? Falta mal assinalada à entrada da área do Benfica, Ademir remata, a bola bate na barreira e trai Fidalgo. Lance estudado, sem dúvida…

E o FC do Porto-Benfica do ano passado? 2-2 já nos descontos, lançamento de linha lateral para os portistas, confusão na área do Benfica e Bruno Morais (que é feito dele?) a tocar ao de leve para dentro da baliza. Justiça tardia, com certeza…
Exemplos como estes e outros são aos milhões, meu caro Miguel Sousa Tavares. Por um motivo bem simples: um jogo de futebol é imprevisível, aleatório. Um golo com um remate de longe, a 30 metros, pode ser para mim um golo de sorte e para si um golo memorável. Um jogo de futebol é assim: há a sorte, claro, mas a sorte não explica tudo.

“Acho que nunca, em tantos anos a ver futebol e a seguir campeonatos, vi uma equipa com tanta sorte como este Benfica de 2007/8”
é uma afirmação infeliz e absurda. Podia confrontá-la com outra, talvez, também, inverosímel: “Acho que nunca em tantos anos a ver futebol e a seguir campeonatos, vi uma equipa com tanta raça como este Benfica de 2007/8”. Dito assim, nenhum de nós tem razão. Porque em futebol não é possível ter afirmações definitivas.

Voltando à “sorte”. Lembra-se do campeonato de 1987/88? Benfica campeão, treinado por Toni? “Acho que nunca em tantos anos a ver futebol e a seguir campeonatos, vi uma equipa marcar tantos golos nos últimos minutos como esse Benfica de 1987/8”. Coincidência?

Pedro Fonseca
Editor do blog "O Inferno da Luz"

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