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segunda-feira, 7 de abril de 2008
Crónica do Peão: Domingo, dia de futebol inglês
Domingo foi dia de futebol inglês. Um fartote! Ao início da tarde, um vibrante Middlesbrough – Manchester United (MU). Quatro golos, dois para cada lado, voltas e reviravoltas no marcador. Estádio cheio, pintado de vermelho, as cores do Middlesbrough e do MU.

Lembro-me de Van der Saar, com um punhado de defesas valentes, a evitar a surpresa e a humilhação dos comandados de Sir Alex Ferguson. Lembro-me de Wayne Rooney, esse “tanque” sempre em movimento e sempre com a baliza nos olhos. Lembro-me de Rio Ferdinand, excepcional central inglês, a sair lesionado, para delírio dos locais (não posso escrever sempre o nome do clube visitado por extenso, senão bato um recorde de caracteres).

Lembro-me de Giggs, o veterano galês, eterno extremo dos “diabos vermelhos”, a pôr a cabeça em água aos homens da casa. Lembro-me do pequeno japonês do MU a entrar em campo na hora do desespero.

E lembro-me claro de Cristiano Ronaldo, a marcar o primeiro, e a endoidecer meio mundo ao longo dos 90 minutos. Na retina, uma jogada, iniciada quase no meio-campo, em que Cristiano Ronaldo, com a bola colada aos pés, passa por um, dois, três, quatro, cinco. Fez-me lembrar sabem quem? Esse mesmo, o “pequeno genial”, o Fernando Chalana.

Acabei o jogo cansado. Futebol cá e lá, bola cá e lá, golos cá e lá. Nem um minuto de paragem. Apenas jogo, renhido, vivido, emocionante. Competição a sério, empenho dos jogadores, público em euforia, espectáculo impressionante, dentro e fora do relvado.

Mas havia mais. Ao início da noite, mais futebol inglês. Um dramático Boavista – Benfica, de encher as medidas. Quatro golos? Isso não, apenas quatro penáltis. Voltas e reviravoltas no marcador? Isso não, um zero a zero, mas com muitas oportunidades de golo.

Estádio cheio? Quase, quase… Pintado de vermelho? Isso sim, das cores do Benfica. Lembro-me de Peter Jehle, o guarda-redes do Boavista – que jogo, meu Deus! Lembro-me de Rodriguez, Léo e Petit, coração e pulmão todo-o-terreno.
Lembro-me de Petit e Léo e Rodriguez a sofrerem faltas dentro da área, e nada. Lembro-me de Di Maria, a passar por um, dois, três, quatro. Fez-me lembrar sabem quem? Cristiano Ronaldo e… Fernando Chalana.

E lembro-me de um senhor chamado Lucílio Baptista. Quem? Um senhor que é de Setúbal e foi o árbitro do Boavista – Benfica. Acabei o jogo indignado. Quem foi o árbitro do Middlesbrough – Manchester United?
Pedro Fonseca
Editor do blogue "O INFERNO DA LUZ"

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sexta-feira, 22 de fevereiro de 2008
Crónica do Peão: George Best e Vítor Baptista
A discussão à volta de quem foi o melhor número 7 da história do Manchester United ameaça a ordem pública nos pubs em redor de Old Trafford: George Best ou Cristiano Ronaldo? Como é possível que tenham caído na esparrela dos “media”? Eu estive lá, em Chester Road, no Castle Hotel, e ouvi bem aquele “red devil” segurando a “pint”: “Sir Eric Cantona, off course”.

Meti-me à conversa, que isto de beber uma lager sozinho não é coisa que se aconselhe a ninguém. “Oooh, Portugal??? Benfica??? Eusébio???”. Tudo isso, sim. Era inevitável. Lembrava-se de 68, claro, da final de Wembley: Manchester – Benfica (4-1). Três golos de George Best.

Best vestia uma camisola vermelha berrante, mas não era do Glorioso. Era um jovem de cabelos compridos, rebelde, irreverente, à frente do seu tempo, mas não era Vítor Baptista. Era o número 7 dos “red devils”, estonteante, glamoroso, longílineo, mas não era Néné. Foi um diabo vermelho, à solta, irrepetível, inacessível, irresistível, mas não era Chalana, nem José Augusto, nem Simões. Levou a equipa às costas, porque era ele e mais dez, mas não era Coluna. Era Best, o melhor deles todos, o mais fantasista, o mais idolatrado, o ícone, mas não era Eusébio.

Morreu novo, como Vítor Baptista. Marcou uma era, um modelo de jogo, uma postura, uma atitude. Não faz mal que tenha coroado as suas melhores exibições contra o “meu” Benfica, o sempre Glorioso. “It´s ok, lad”.
“The old man in the pub”, rectificou. Best, primeiro, Cantona, depois, a seguir vem, talvez, Cristiano Ronaldo. Talvez… “I saw Best and Eusébio. What a match… what a fantastic final…”, e um novo gole na “pint”.

O meu baú das melhores recordações ainda chega aí. Num lugar especial da memória tenho guardada a equipa invencível: Bento; Artur; Humberto; Germano e Cavém; Jaime Graça; Coluna e Chalana; José Águas; Eusébio e Vítor Baptista. Que me desculpem os imortais: Simões; José Augusto; Torres; Néné; Toni; Shéu; Diamantino; Alves; Ângelo; José Águas; Vítor Martins. E tantos e tantos, Meu Deus !!!

Viram bem: Vítor Baptista; Eusébio e José Águas. Um hino, uma epopeia, um épico. Como “Casablanca”. Como um Beethoven compondo o “Hino da Alegria”. Como Miguelângelo pintando o tecto da Capela Sistina. Pinceladas de génio, de arte, de plasticidade única, intangível, imaterial.

George Best morreu, nas não nos corações daqueles sofredores dos pubs de Manchester, que viveram o trauma da tragédia de Munique, em 1958, e o desaparecimento de oito “Busby boys”.
Vítor Baptista morreu, mas não naqueles corações febris da malta do Terceiro Anel numa solarenga tarde de Domingo, em jogo de clássico. Ele de cócoras no relvado sagrado, depois de golo monumental ao Sporting. Nós aos abraços no sítio mais único do Mundo, bem no centro do Inferno da Luz.

George Best e Vítor Baptista. Duas almas gémeas. Benfica e Manchester United. Duas faces do mesmo amor ao futebol-espectáculo. Nas cavalgadas heróicas de um e outro, de vermelho vestidos, de cabelos ao vento, de raiva e loucura e doce ilusão na cara – eu recuo à adolescência, à inocência, de quem ama o jogo pelo jogo. Sem truques, nem jogadas baixas.
Pedro Fonseca
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sexta-feira, 18 de janeiro de 2008
Crónica do Peão: A culpa não morreu solteira
Estou siderado. O “caso” Meyong fez rolar cabeças ao mais alto nível. Caiu, assim, o mito da impunidade no futebol português. Recapitulemos: Meyong, avançado camaronês que fez história no Belenenses depois de ter sido o melhor marcador do campeonato na época de 2005/06, regressou ao clube do Restelo, após ter estado no Albacete e no Levante.

Chegou como herói e acabou por dar a vitória aos azuis, logo no jogo de estreia, contra a Naval 1º de Maio, da Figueira da Foz. Os homens da Naval, que não andam a dormir, descobriram que Meyong foi irregularmente utilizado, porque já tinha jogado oficialmente esta época por dois clubes, o que a legislação não permite. O Belenenses corre assim o risco de perder 6 pontos, os 3 do jogo com a Naval mais 3 de penalização. A confirmar-se, como tudo indica, esta sanção, o clube da Cruz de Cristo passa do 8º lugar, a 2 pontos das competições europeias, para o 13º lugar, a 1 ponto da descida de divisão.

Independentemente de quem tem a culpa: Carlos Janela, o secretário-técnico, ou Cabral Ferreira, o presidente da Direcção, ou qualquer outra personagem, o que há que sublinhar é que ela, a culpa, não morreu solteira. Confusos?
É natural. No futebol português, não é normal a assumpção de responsabilidades, sejam elas directivas, (por exemplo o comportamento de Gilberto Madaíl, presidente da Federação, no “caso” Scolari); sejam arbitrais, (veja-se o “no pasa nada” de Vítor Pereira, presidente da Comissão de Arbitragem, e do árbitro Paulo Costa, depois da vergonhosa actuação deste último no Benfica-Leixões); sejam policiais, como foi o caso da responsabilidade nunca assumida das autoridades face ao comportamento da claque do FCP na Luz, época passada.

Pelo menos, no Restelo, a coisa fia mais fino. Janela foi despedido liminarmente e Cabral Ferreira demitiu-se, alegando é certo razões de saúde, mas claro que a causa foi Meyong. É pena que este exemplo não frutifique e que não tenha até efeitos retroactivos.

Se assim fosse, Carlos Freitas não saía de Alvalade impante e reconfortado; nem João Loureiro assobiaria para o ar face ao descalabro financeiro do Boavista; nem Jorge Santana, ex-presidente do V.Setúbal, teria tido o desplante de andar meses a fio a brincar aos “cowboys”. Porque é isso mesmo o futebol português, uma coboiada, um far-west sem lei, nem ordem. Vá lá que o respeitinho à Cruz de Cristo ainda é muito bonito. E lá tiveram de dar a outra face.
Pedro Fonseca
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sexta-feira, 4 de janeiro de 2008
Crónica do Peão: Carta aberta a Simão
Meu caro:

Gostei de ler a tua entrevista ao jornal “A Bola”. A gratidão é uma qualidade rara, mas define o carácter de um homem. Mostraste que tens gratidão e carácter. Agora em Madrid, no Atlético, tens ainda o Benfica no coração e não colocas de lado o regresso.

Lembro-me, uma vez, anos atrás, dizia-me um benfiquista, como eu: “Venda-se o Simão, encaixe-se uns milhões e compre-se outro craque. Então não ganhamos ao Manchester, ao Setúbal, ao Marítimo, ao Boavista, ao Guimarães e ao Penafiel, sem ele?”. Sem ele???

Eu sei, e tu também sabes, que a memória dos homens é curta. Esqueceram-se que na vitória do Campeonato, onze anos depois, eras tu e mais 10. E com Trapattoni no banco. O “velho” Trap, lembras-te, que tem idade e currículo para não olhar a nomes – que o digam Del Piero, Totti e “tutti quanti” -, mas que te tratava como “o meu menino”.

Eu sei que não és benfiquista desde pequenino, mas aquele voo da águia que imitavas ao festejar os golos, dificilmente vou esquecer. E quando hoje endeusam Cristiano Ronaldo ou Quaresma, que dizer de ti, que mais novo ainda foste lançado às feras em Barcelona, numa altura em que Nou Camp era uma verdadeira arena romana, trituradora de jogadores e treinadores. Mesmo assim, ainda me recordo de um golo, de repentismo, ao Real Madrid.

Vieste para a Luz como um herói. Conseguiste relançar a tua carreira e essa é uma dívida que nunca pagarás ao Benfica. Mas também te estamos gratos pelo brio, pela classe, pelo estoicismo. Foste capitão, com merecimento. Engoliste com humildade a desfeita de Camacho, ao eleger Hélder como comandante supremo do “exército vermelho”.

Regressaste a Espanha, para te vingares da impaciência dos barcelonistas. Estás a lutar pelo título, ajudando o Atlético de Madrid a fazer um dos melhores inícios de campeonato dos últimos anos. Pode ser que um dia regresses. Mas se isso não acontecer, ninguém vai retirar a placa com o teu nome do lugar especial na “Nova Catedral”.

Pedro Fonseca
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terça-feira, 18 de dezembro de 2007
Crónica do Peão: Carta aberta a Beckenbauer
Caro Franz:
Tenho guardado, religiosamente, o artigo que escreveste em 28 de Dezembro de 2006, já lá vai quase um ano, publicado no jornal Record. Reli-o depois daquela sabotagem feita pelo árbitro Olegário Benquerença, num célebre Benfica – FC Porto, ao não validar o golo de Petit, depois da bola entrar na baliza de Baía. Voltei a lê-lo agora, depois de uma reportagem sobre as bolas com “chip”. Li-o sempre com o interesse devido às opiniões de um Kaiser do futebol. Retenho-me sempre numa passagem, assaz curiosa. Dizes tu que sempre que vais a Londres és confrontado com a dúvida sobre se no célebre terceiro golo inglês da final do Mundial de Inglaterra, em 66, a bola transpôs, ou não, a linha de baliza. E dizes mais: que um jornalista inglês te confidenciou que recentes métodos de alta sofisticação provam que a bola não entrou mesmo.
Neste ponto, tens a frase que me suscitou esta reflexão: a derrota alemã nessa final foi “uma dor que superei há muito tempo”. Que dor, Franz? Não foi à dor física de um braço ao peito, com que jogaste parte daquela final, a que te referias. Foi a uma “dor” mais forte que transportaste durante anos – a derrota com um golo “fantasma”.
Mas, pensa bem. O que foi essa “dor”, comparada com a de Eusébio, banhado em lágrimas, agarrado a Manuel da Luz Afonso, a sair de Wembley, nesse mesmo Mundial de 66. Lembras-te Franz, da “batota” inglesa de obrigar Portugal a viajar 400 quilómetros de comboio para disputar a meia-final com a Inglaterra? Achas que Eusébio já superou essa “dor”? Ele, o Pantera Negra, que, ao contrário de ti, nunca mais teve outra oportunidade para se sagrar campeão do Mundo, como um campeão como ele merecia.
E que me dizes da “dor” de Cruyff, em 74, lembras-te? Como te poderias esquecer daquela louca final do Mundial da Alemanha? Um Olímpico de Munique boquiaberto com o banho de futebol que a tua selecção, Franz, levou de uma Holanda, mágica “laranja mecânica” que assombrou o Mundo. Ganhaste, mas foi como se tivesses perdido. Achas que Cruyff já superou essa “dor”, ele, o mágico da camisola 14, que nunca ergueu a “Jules Rimet”?
E a “dor” de Sócrates, naquela maravilhosa “canarinha” do Mundial de Espanha de 82, que “morreu” às mãos da cínica Itália de Paolo Rossi? E a “dor” de Maradona, afastado pela FIFA do Mundial de 94 nos EUA, ao ser apanhado no controlo anti-doping?
O que foi a tua “dor” comparada com as de Eusébio, Cruyff, Sócrates ou Maradona? O que foi a tua “dor” comparada com a nossa, os que amam o futebol-arte? Nós, os que nunca superamos a “dor” da derrota dos “Magriços”, em 66, da “Laranja Mecânica”, em 74, do “Escrete”, em 82, da “Celeste”, em 94. Podes perceber, Franz, a diferença entre esta “dor” e a dúvida sobre uma bola que entrou, ou não?

Pedro Fonseca
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terça-feira, 11 de dezembro de 2007
Crónica do Peão: Lindos, mas vazios...
Estádio da Luz, domingo às 20.45 h, Benfica – Académica – 12.000 espectadores (jornal O JOGO); 10.000 espectadores (jornal A BOLA). Pode um jogo de futebol disputar-se a um Domingo às 20.45 horas?
Num estádio com capacidade para 65 mil pessoas, com menos de 45 mil, a Luz torna-se um local confrangedor, um monstro de cimento, frio e vazio. O contrário do que foi e deve ser sempre o Estádio da Luz: um Inferno.
Depois do jogo com o FC do Porto, de triste memória, ouvi diversos comentários de benfiquistas e não benfiquistas, com um denominador comum: a Luz não mais vai encher até final da época.
Permito-me discordar. Se a equipa conseguir ultrapassar as próximas duas eliminatórias da Taça UEFA, estou certo que a Luz voltará a encher para os quartos-de-final e, assim o espero, para as meias-finais.
Porém, há que garantir uma afluência média constante, acima das 50 mil pessoas, ao longo de toda a época. Tal objectivo traz vantagens não só financeiras como competitivas. Não é a mesma coisa jogar num estádio quase vazio ou numa Luz fervilhante e infernal. A força anímica que injecta nos nossos jogadores é proporcional ao temor que provoca nos nossos adversários.
O que fazer? Desde logo, terminar com a ditadura das televisões, chamem-se elas Sport TV, SIC, TVI ou RTP. Ninguém convence famílias a irem ao estádio com jogos ao domingo à noite.
Depois, praticar preços competitivos – um assunto que devia merecer a atenção da direcção da Liga de Clubes, agora que está preocupada com a situação financeira dos clubes.
Pergunto-me: que receita terá feito o Benfica (bilheteira + “cachet” televisivo)? Essa verba não seria superior se o jogo tivesse sido no domingo à tarde, sem transmissão televisiva, e com, provavelmente, 50 mil nas bancadas?
Eu sei que esta é uma velha questão. Mas, apesar de velha, está longe de estar resolvida. Não aprendemos com os erros e, pior, nem sabemos copiar o que de bem feito se faz lá fora, principalmente em Inglaterra. Assim, continuaremos a caminhar alegremente para o abismo. Lembrem-se dos estádios de Leiria, de Aveiro, de Coimbra e do Bessa. Lindos, mas vazios…

Pedro Fonseca
Editor do blogue “O INFERNO DA LUZ”
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terça-feira, 4 de dezembro de 2007
Crónica do Peão: Fé e paixão
Quando Figo, 10 nas costas da camisola branca madridista, subiu ao relvado do Camp Nou, e recebeu a mais violenta vaia ouvida num estádio de futebol (talvez só comparada à que Durão Barroso ouviu na inauguração do Estádio da Luz), isso quer dizer alguma coisa. “Pesetero” lhe chamaram, e ele, dedos tapando os ouvidos, desejou esconder-se nos braços da sua Helen.

Quando em Madrid, no Santiago Bernabéu, os “Ultra Sur”, assobiam o génio de Ronaldinho, isso quer dizer alguma coisa. Ou em Barcelona, os “Boixos Nois” vituperavam a magia nos pés de Zidane, isso queria dizer alguma coisa.

E em Ibrox Park, quando os adeptos do Glasgow Rangers aplaudem as derrotas do Celtic, sejam elas contra o Dundee ou contra o Benfica – e nem lhes falem em Henrik Larsson – isso quer dizer alguma coisa. E no Celtic Park, os católicos do Celtic entoam cânticos em delírio quando os protestantes dos Rangers saiem do estádio de cabeça baixa – isso quer dizer alguma coisa. “You w´ll never walk alone”.

E em Milão, no S. Siro, (para uns), Giuseppe Meazza, (para outros), algum dia se viu os “interistas” saudar o estilo único de Altafini, ou de Mazzola, de Baresi, Van Basten ou Rijkaard? E os “milanistas”, heresia das heresias, nunca se atreveriam a levantar-se perante qualquer sublime jogada de Fachetti, Bergomi ou Recoba. Isso quer dizer alguma coisa…

Talvez só em Anfield, os adeptos do Kop tenham assistido conformados às cavalgadas de Best, de Cantona ou de Giggs. E em Old Trafford, os indefectíveis dos “red devils” não tenham lançado cadeiras a Dalgish, Souness ou, agora, a Gerrard.

Será que só em Inglaterra se gosta de futebol? Será que em Madrid, Barcelona, Milão ou Glasgow esse maravilhoso jogo não é apreciado devido à cega fé clubística/religiosa/política? Que ideia!!!

Quando em S. Siro o perfume do futebol de Platini era insultado, isso não significava que os “milanistas” não adorassem o espectáculo. O que eles não suportavam era a invencibilidade da “Vecchia Signora”, a então inacessível Juventus.

Nem em Turim, quando espetavam o dedo do meio na direcção de Maradona, os adeptos eram contra o genial “el pibe”. Não consentiam era que o modesto Nápoles, do pobre Sul, se guindasse ao primeiro plano do Calcio, por obra e graça do pequeno “cebollita”.

Em Madrid e Barcelona, raízes mais fundas, de carácter político, justificam a animosidade, ódio mesmo, entre os “blancos” e os “azul grená”. Mas esse sentimento não destrói o amor ao futebol-espectáculo. Se assim fosse, como explicar que no Bernabéu esse mago careca, D. Alfredo Di Stéfano, vindo das Ramblas, fosse parar onde ainda hoje mora, ao coração madridista. E Figo? Ou, em sentido inverso, Samuel Eto´o?

Não concebo, assim, que, quando estou no meu lugar na Catedral da Luz me digam que ali estou unicamente pela fé e não pelo futebol. Claro que estou pela fé. E pelo futebol. Pela magia que nasce dos pés de Rui Costa, como nasceu dos pés de Chalana. Uma magia que eu prefiro à de Quaresma, seja vestido de azul às riscas ou envergando a camisola das quinas. Quem disse que o futebol tem Pátria?

Pedro Fonseca
Editor do blog "O INFERNO DA LUZ"

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terça-feira, 27 de novembro de 2007
Crónica do Peão: Sorte, disse ele...!?
Devido a motivos imprevistos o nosso novo cronista, Pedro Fonseca, que já tinha postado na última semana (o post Anjo Branco), não fez a sua introdução. Pedro Fonseca é um benfiquista fanático e dirige um blogue, também ele dedicado ao clube da Luz, chamado: O Inferno da Luz. Convidamo-lo e ele, gentilmente, aceitou e agora fará, semanalmente, uma crónica sobre o desporto rei. Aproveitem!

Sorte, diz ele. Sorte? O autor de “Equador” e de “Rio das Flores”, Miguel Sousa Tavares, à falta de melhor argumento, diz, e passo a citar, “acho que nunca, em tantos anos a ver futebol e a seguir campeonatos, vi uma equipa com tanta sorte como este Benfica de 2007/8(in jornal “A Bola” de 27 de Novembro de 2007, rubrica “Nortada”).

O celebrizado escritor, jornalista e comentador, conhecido pela sua coragem opinativa é, no entanto, sobre este assunto bem cauteloso. Vejam bem: “acho que…”, defende-se ele. Acha mal. E tem memória selectiva.

Miguel Sousa Tavares chamou “sorte” ao golo de calcanhar de Luisão, no Académica-Benfica, de sábado passado. Pois bem: e o golo de Madjer, em 87, no Bayern-FC do Porto, final da Taça dos Campeões Europeus, no Prater de Viena? Lance genial, claro…
E o golo de Ademir, lembra-se, a 7 minutos do fim, em 1978, em pleno Estádio das Antas, num épico FC do Porto-Benfica, cujo empate final de 1-1 acabou com o jejum portista de 18 anos sem ganhar o campeonato? Falta mal assinalada à entrada da área do Benfica, Ademir remata, a bola bate na barreira e trai Fidalgo. Lance estudado, sem dúvida…

E o FC do Porto-Benfica do ano passado? 2-2 já nos descontos, lançamento de linha lateral para os portistas, confusão na área do Benfica e Bruno Morais (que é feito dele?) a tocar ao de leve para dentro da baliza. Justiça tardia, com certeza…
Exemplos como estes e outros são aos milhões, meu caro Miguel Sousa Tavares. Por um motivo bem simples: um jogo de futebol é imprevisível, aleatório. Um golo com um remate de longe, a 30 metros, pode ser para mim um golo de sorte e para si um golo memorável. Um jogo de futebol é assim: há a sorte, claro, mas a sorte não explica tudo.

“Acho que nunca, em tantos anos a ver futebol e a seguir campeonatos, vi uma equipa com tanta sorte como este Benfica de 2007/8”
é uma afirmação infeliz e absurda. Podia confrontá-la com outra, talvez, também, inverosímel: “Acho que nunca em tantos anos a ver futebol e a seguir campeonatos, vi uma equipa com tanta raça como este Benfica de 2007/8”. Dito assim, nenhum de nós tem razão. Porque em futebol não é possível ter afirmações definitivas.

Voltando à “sorte”. Lembra-se do campeonato de 1987/88? Benfica campeão, treinado por Toni? “Acho que nunca em tantos anos a ver futebol e a seguir campeonatos, vi uma equipa marcar tantos golos nos últimos minutos como esse Benfica de 1987/8”. Coincidência?

Pedro Fonseca
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terça-feira, 20 de novembro de 2007
O anjo branco
Vi-o a sair de cadeira de rodas da unidade hospitalar onde lutou pela vida. É uma imagem que fica na minha memória. Vi-o curvado, sob o peso de 79 anos bem vividos e sob as sequelas de uma “revienga” causada por um enfarte de miocárido que o atirou para uma cama de hospital durante um mês.

Querem falar de bom futebol? Querem escrever sobre o bom futebol? Então, esqueçam Ronaldinho, o Gaúcho, esqueçam Beckam, o “old Spice”, esqueçam Zidane, o marselhês, esqueçam Cristiano Ronaldo, o libertino.
Recuemos uns anos, uns largos anos, é certo. Segunda metade da década de 50, o Real Madrid dominava a Europa e o Mundo do futebol. De 56 a 60 ergueu a então denominada Taça dos Clubes Campeões Europeus.

Naquela assombrosa equipa, de Gento e Puskas e Del Sol, sobressaía uma figura imponente, careca como Bobby Charlton, a quem apelidavam de “saeta rubia”, para lembrar a sua origem argentina.

Antes de chegar à Europa, no país das pampas, representou outro clube mítico, o River Plate, arqui-rival do Boca Juniors, de Maradona, El Pibe.
Depois, o destino era Barcelona, mas acabou em Madrid, para glória dos “blancos”. Ironia do destino: também Eusébio, o Rei, estava para vir para Alvalade e acabou na Luz. É assim que se faz a história dos maiores clubes do Mundo.
Voltemos à “saeta rubia”. Descobriram? Claro, D. Alfredo. Hoje, qualquer um tem o nome estampado na camisola. Naquele tempo, apenas o 9 na camisola branca, como apenas o 10 na camisola vermelha de Eusébio, como o 14 na laranja de Johann Cruyff, como o 10 na azul de Platini e na celeste de Maradona. Só o número. O nome, esse nome, Alfredo Di Stéfano, estava debruado a ouro nos corações madridistas.

Esses milhões de corações bateram, desde a Praça Cólon à La Castellana, num frémito de emoção quando D. Alfredo assomou à porta do hospital. Vergado, como nunca o tinham vergado nos relvados. Mas, ali. O anjo branco.

Pedro Fonseca
Editor do blog “O Inferno da Luz”
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