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terça-feira, 4 de dezembro de 2007
Crónica do Peão: Fé e paixão
Quando Figo, 10 nas costas da camisola branca madridista, subiu ao relvado do Camp Nou, e recebeu a mais violenta vaia ouvida num estádio de futebol (talvez só comparada à que Durão Barroso ouviu na inauguração do Estádio da Luz), isso quer dizer alguma coisa. “Pesetero” lhe chamaram, e ele, dedos tapando os ouvidos, desejou esconder-se nos braços da sua Helen.

Quando em Madrid, no Santiago Bernabéu, os “Ultra Sur”, assobiam o génio de Ronaldinho, isso quer dizer alguma coisa. Ou em Barcelona, os “Boixos Nois” vituperavam a magia nos pés de Zidane, isso queria dizer alguma coisa.

E em Ibrox Park, quando os adeptos do Glasgow Rangers aplaudem as derrotas do Celtic, sejam elas contra o Dundee ou contra o Benfica – e nem lhes falem em Henrik Larsson – isso quer dizer alguma coisa. E no Celtic Park, os católicos do Celtic entoam cânticos em delírio quando os protestantes dos Rangers saiem do estádio de cabeça baixa – isso quer dizer alguma coisa. “You w´ll never walk alone”.

E em Milão, no S. Siro, (para uns), Giuseppe Meazza, (para outros), algum dia se viu os “interistas” saudar o estilo único de Altafini, ou de Mazzola, de Baresi, Van Basten ou Rijkaard? E os “milanistas”, heresia das heresias, nunca se atreveriam a levantar-se perante qualquer sublime jogada de Fachetti, Bergomi ou Recoba. Isso quer dizer alguma coisa…

Talvez só em Anfield, os adeptos do Kop tenham assistido conformados às cavalgadas de Best, de Cantona ou de Giggs. E em Old Trafford, os indefectíveis dos “red devils” não tenham lançado cadeiras a Dalgish, Souness ou, agora, a Gerrard.

Será que só em Inglaterra se gosta de futebol? Será que em Madrid, Barcelona, Milão ou Glasgow esse maravilhoso jogo não é apreciado devido à cega fé clubística/religiosa/política? Que ideia!!!

Quando em S. Siro o perfume do futebol de Platini era insultado, isso não significava que os “milanistas” não adorassem o espectáculo. O que eles não suportavam era a invencibilidade da “Vecchia Signora”, a então inacessível Juventus.

Nem em Turim, quando espetavam o dedo do meio na direcção de Maradona, os adeptos eram contra o genial “el pibe”. Não consentiam era que o modesto Nápoles, do pobre Sul, se guindasse ao primeiro plano do Calcio, por obra e graça do pequeno “cebollita”.

Em Madrid e Barcelona, raízes mais fundas, de carácter político, justificam a animosidade, ódio mesmo, entre os “blancos” e os “azul grená”. Mas esse sentimento não destrói o amor ao futebol-espectáculo. Se assim fosse, como explicar que no Bernabéu esse mago careca, D. Alfredo Di Stéfano, vindo das Ramblas, fosse parar onde ainda hoje mora, ao coração madridista. E Figo? Ou, em sentido inverso, Samuel Eto´o?

Não concebo, assim, que, quando estou no meu lugar na Catedral da Luz me digam que ali estou unicamente pela fé e não pelo futebol. Claro que estou pela fé. E pelo futebol. Pela magia que nasce dos pés de Rui Costa, como nasceu dos pés de Chalana. Uma magia que eu prefiro à de Quaresma, seja vestido de azul às riscas ou envergando a camisola das quinas. Quem disse que o futebol tem Pátria?

Pedro Fonseca
Editor do blog "O INFERNO DA LUZ"

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